sábado, 3 de janeiro de 2009

ESSES HOMENS, AQUELE COCKER, E A BOLINHA. (Samuel Rangel)

Ontem, na Cervejaria Anjos Boêmios, mais do que a música ou qualquer outra coisa, era noite de filosofia de boteco. De certa forma, como idealizador da primeira Olimpíada de Boteco, essas noites não me espantam, a ponto até de me cantarolar suavemente a idéia de incluir na Olimpíada de Boteco alguma modalidade de cunho intelectual e etílico. Prometo que vou pensar nisso..Mas a verdade é que, após uma seleção de Osvaldo Montenegro e algumas músicas de Zé Ramalho, percebi uma coleção de meninas com olhos tristonhos, como se suspirassem internamente lembranças de amores idos, e de decepções que ainda ardem nas unhas roídas pela ansiedade. E lá estavam elas, como se desaconselhassem o repertório que escolhi para uma quinta-feira curitibana. Tentando me desvencilhar desses vacilos que os que são do palco comentem, pensei em mudar o repertório. Não adiantou. Percebi que a felicidade não é lá um Gol mil que cada família possa ter ao menos um na garagem..Então coloco o violão no saco, e ponho o microfone em off. Vamos conversar. Como quem dá a palavra em uma reunião de condomínio, a conversa vem em turbilhões, com dois falando ao mesmo tempo, e mais três com os apartes jogados contra teses sobre relacionamentos e as dificuldades encontradas nos dias atuais..Como é de se esperar, e sempre, sem a menor esperança de ver mudar, homens num canto e mulheres no outro sobem ao ringue do campeonato da culpa, e trocam ferpas que sempre conduzem ao mesmo final. Os homens não prestam e as mulheres não são confiáveis..Tentei apartar a luta uma vez, duas, três, e com o dedo de um aluno de primário implorando pela atenção da Tia Ruthe, consegui após muito tempo dar minha opinião: Não creio que o problema seja dos homens ou das mulheres. Eu creio que o problema esteja nas pessoas sejam elas do sexo que for..Deu certo. Os ânimos antes acirrados agora, molham os argumentos com uma Itaipava bem geladinha. Pronto. Por puro interesse comercial quem sabe, coloquei ordem no meu boteco e trouxe a paz entre os sexos..Após isso, alguém falou do comportamento de certos homens, e nesse sentido, não pude deixar de conceder total razão..Seria mentira dizer que nós homens, não deixamos as vezes nos levar pelos instintos, ao nos deparar com pernas longas, com um belo colo, com curvas pensadas e arquitetadas por um acaso feliz. E quando nos deparamos com essas beldades, o lado racional que normalmente é o predominante, acaba por se embrulhar em saias e blusas que nos fazem tolos..Mas a descrição fornecida por uma das pessoas da mesa, acabou se tornando o catalisador deste texto, obrigando-me a dividir com o leitor essa hilária tese, e as soluções encontradas por um grupo de filósofos de botecos..A comparação é simples. Alguns homens, quando se deixam levar pelo desejo sexual, acabam se tornando algo extremamente semelhante aquela raça de cachorro: O Cocker. Essas coisinhas peludas com cara de triste, quando encontram uma perna cheirosa, perdem totalmente a noção. Trançando as patinhas em torno do objeto do desejo, lá ficam as criaturas chatas e desagradáveis, em um subindo e descendo no ritmo de seu desejo..Alguns homens quando abordam as mulheres, realmente perdem a noção por completo. Como aquele cidadão que ao perguntar o nome da menina não consegue ser claro. E a menina pensa: Ele quer saber o meu nome ou o nome dos meus seios? Um olhar direcionado indiscretamente para os dotes da menina, naturais ou não (e isso já não faz mais diferença pra muita gente), impedem o cidadão de dedicar-se à portadora dos seios, e impede esta de levar a sério a criatura cocker que está pronta para pular em sua perna em plena balada. Se ela não tomar uma atitude rápida, lá estará o marmanjo subindo e descendo nas pernas da menina que já prevê o vexame em plena boate..Por si só, já parece extremamente engraçada a imagem de um evento desta natureza em um bar, testemunhado por uma multidão de mulheres, pois a maioria dos homens estaria lá procurando a sua perna ainda..Mas para o meu espanto, a comparação final é que trouxe a graça jamais pensada por mim. Já que o comportamento de tantos homens é como o do cocker, então que as mulheres se munam de bolinhas de tênis, ou de meias mesmo (se forem de meias finas ainda podem despertar mais desejo no animalzinho)..E assim funciona o repelente. A partir do momento que a mulher se encontra em plena investida do cocker bípede de poucos pelos, ela pega a bolinha e joga longe. Lá vai a criatura escorregando as patinhas em disparada carreira atrás da bolinha. Consegue imaginar a cena? Pronto. Elas estão livres das criaturas irracionais? Não. A criatura pega a bolinha e sempre volta. Então é hora de lançar o objeto mais longe ainda. E mais longe, e mais longe, e mais longe, até que, quando você despachar a bolinha pelo Fedex para algum lugar da Sibéria, quem sabe o cocker pare de correr atrás..É lógico que existem diferenças, e algumas bolinhas não podem ser lançadas a mais de 30 cm. Principalmente com um poodle velho e com problemas cardíacos. Saber usar a bolinha realmente faz parte de toda a ciência do desejo..Mas também é certo que haverá aquelas que dispensarão a bolinha por adorar o pequeno cão em suas pernas.

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